quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

As cores do meu Sertão















Encanta-me ver o sol descendo no horizonte
Corando o céu azul e levando mais um dia
Trazendo-me a beleza do meu lugar distante
Fascinam-me as cores quentes que de longe irradiam
Aquece a minha mente invadida de saudades
A verdade é que nesse mar eu só encontro solidão
E o meu coração possui asas que deixam essa cidade
Voando como um passarinho a caminho do meu sertão.

Ana Rita Dantas de Lira

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os tecidos do tempo de vovô e outras curiosidades....!







   Só pra começo de conversa,no tempo de vovô não havia tecido!Havia corte de fazenda!
Aí vai uma pequeníssima lista:


Mescla Dona Izabel

Volta o mundo

Arranca toco

Algodãozim


 O Tecido Luizim e a piada que resistiu ao tempo:

Vovô: Vixe Edson! Tá lordy hoje.
Edson: É! E a roupa é de Luizim!

  A sala da frente era conhecida como cupiá, o quarto como camarinha e o armário carinhosamente  apelidado de giral.
  
   O pano de secar louça já foi rudia e volta!
  Ao cantrário de creme dental e sabão, usáva-se rapa de juazeiro!
  Apesar das circunstâncias gostáva-se de panelas bem ariadas,mas, como não haviam criado o Bombril e o Assolan o jeito era recorrer as areias coloridinhas!

Conversa de Trancoso?





Albertina Xique-chik
Logo cedo se apronta.
Põe a lenha na fornalha
Assim que o galo canta.
Joga mio pras galinha 
No terreiro chei de planta
É fejão, é macachera,
Lá na horta e na cozinha.

De madêra tem pilão 
Pra pilar mio e farinha
Girgilin e café forte
Daqueles de trocê lingua.

Tudo isso,diz Bebé,
É o milhor que há na vida.

Mas Albertina Xique-chik,
Sofre d"um má qui não tem cura.
A danada da veinha é pior do quê cajaca,
Inda alega ser caduca.
Ela ajunta cacareco
No buraco que achar,
É no chão véio vermeio
Da sala de está...

Um dia vou te levar
Lá na casa de Albertina
Pro seus olho ver assombro
Cumeçando da curtina:

Florida de toda estampa 
Com remendo fuxicado
Os cacho de flor de prástico
Pendurado por todo lado.

Os retrato de pulitico
Nas parede desbotado,
E no quarto pra visita
É foto que dói na vista,
Com destaque pros finado!

Lá tem tanta raridade
Que as coisa do museu
A poiqueira é comparada.
Armador de madeira
Gancho pra chapéu de pálha.

Tanta coisa assim de doido,
Tem que ir lá pra acreditar,
A galinha pondo ovo 
No buraco do sofá.

Os arreio dos cavalo,
Pendurado lá nas téia.
Junto cum os inchú de abêlha.
E a jurema do quintal
De roupa sempre enfeitada,
dispensa o antigo varal!

Albertina do jeito que é
Num pudia, era deixar
De interrar uma butija.
O medo é que dento dela
De ouro num tenha nada.

Vai que a véia intarrasse 
tudo qui ela mais gostava?

Por sê igual a burra
De Zé cigano véi
Cuberta de bijú da cabeça até os pés.
Acunhava carmim nos beiço
Que de longe encandiava.

O meu medo é que a butija 
Têja cheia dessas tralha!

Cá pra nós: Se Bebé disconfiar
Desse plano de achá 
A butija escondida
Antes de já tá batida
As bota da cumadre!

O chão não vai ficá duro
Mais amigo eu te juro
Que a Bebé vai se vingar!

Enchendo a butija.
_ De quê?
Vou te contar:

Anágua rasgada o elástico
Vestido de chita amofado.
Volta queimada do forno,
O dente de leite e a chapa dela,

Um pinico de latão,
Caco de pireco de loça,
E de barro uma panela!
E o pior nem é isso 
Do tesouro sem valia
Que a gente anda imaginando.

Mais ruim é a vassôra
que ela bota atrás da porta,
Pra impedir a sua volta 
E a butija protegê.

Assim Só vai crescendo
O piolho de todo mundo.
O jeito é esperar,pra Bebé num viver muito.

E torcer pro baú,num ser igual a casa dela:
Um ninho de cajaca de couro,
E sim pra ser recheado
De prata e moeda de ouro.

Ana Luíza Dantas de Lira



Cajaca,Cajaca de couro ou Casaca de couro: Ave típica da caatinga,que faz um ninho bem curoso com tudo que tem direito.Pente velho,espelho,garranchos,folhas,embalagem de creme dental, etc. Ela é marrom avermelhada, de topete.E possui um canto também bonito.Veja as fotos: http://www.wikiaves.com.br/298939&t=s&s=11113&p=1

Cacareco: Porcaria,coisa sem valia.
 
Jurema:  A Jurema é uma planta da família das leguminosas, comum no Nordeste brasileiro, com propriedades psicoativas.

Butija: Tesouro enterrado:  No sertão a lenda da botija ou  butija,dizia que antes de morrer,a pessoa deixava uma botija enterrada, depois de morta a pessoa viria em sonho, avisar a alguém o local da botija.E esse alguém teria de guardar segredo e ir sozinho a grande caçada,exceto se no sonho houvesse mais alguém.Nesse caso as duas pessoas iriam procurá-la e ao desenterrar deveriam utilizar objetos de madeira, ou só as mãos.Caso contrário o chão endureceria,a butija não seria encontrada e os sortudos morreriam.
Uma vez seguida todas as etapas e com a butija em mãos, no espaço de uma semana deveriam mudar de casa,ou trocar as portas, caso não ocorresse assim o morto tomaria a dinherama e os sortudos morreriam misteriosamente.Trágico!

Volta: Pano de enchugar loças.

Pireco: Pires.





* Foto retirada do blog:  O Typhis Pernambucano.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vovô sortiado pra Segunda Guerra Mundial(salvo pelo gongo)!_ Entrevista.


Eu: Vozinho, como se deu o sorteio para guerra? E como o Senhor foi escolhido?

Ozanan: Na época eles sorteavam pela idade,e a gente tinha que fazer um cadastro lá na cidade,aí havia um sorteio e quem fosse chamado, iria sentar praça* na cidade  de Natal por algum tempo,e de lá partiria para Itália.
    No ano de 1945, quando tinha idade de 20 anos, fui chamado.Na época eu morava em Missias Targino(antigo município de Patu) e fui fazer meu registro em Patu.Faltava cerca de um mês para eu ir sentar praça em Natal,quando se ouve a notícia do fim da Guerra e fui dispensado.

Eu: O que o Senhor imaginou quando foi sorteado?

Ozanan: Não tive medo,só pensava em cuprir meu papel.Uma vez que era obrigatório e não poderia contrariar a lei.

Eu: O Senhor teve a chance de conhecer outros sorteados?Qual o sentimento deles diante dessa surpresa?

 Ozanan:  Conheci sim.Posso citar aqui: Francisco de Tota Teixeira,parente de seu avô paterno.
                                                           Apolinário Jales,parente de nossa família
                                                           E Joaquim,conhecido como Quinca de Flozina.
     Eles também não pensaram muito não,só sabiam que tinha que ir para uma guerra na Itália.

Eu: Ah! Eles iam lutar sem saber porque e muito mais,para quem ou pra quê!

Eu: Como o Senhor se sente ao olhar o passado e perceber que toda sua vida dependeria do desenrolar da Segunda Guerra Mundial?

Ozanan: Me sinto feliz,tive muita sorte.Porque se a Guerra tivesse continuado,Provavelmente não estaria aqui pra contar a história da linda e enorme família que eu e minha esposa Seledina construimos juntos.



*Sentar praça: servir como soldado,ao que ele explicou é uma espécie de treinamento.

sábado, 21 de janeiro de 2012

A Burra de Zé Garcia ,há testemunhas de sua existência!





        Hoje a gente se diverte e dá gargalhadas com  o personagem desse burrinho,O Burro Falante.Que aliáis é muito engraçado e todo esse sucesso é devido às características humanas bem misturadas com algumas animalescas.Mas, alguns sabem que não sempre foi assim.
       Em tempos remotos,diz vovô,ter conhecido,um cigano chamado Zé Garcia,lá pras bandas da Paraíba.Naquele tempo era bem comum encontrar ciganos nas estradas ou acampados.Vovô conta que eles andavam em grandes grupos e gostavam de negociar qualquer coisa.Mas sem dúvida o cigano que ficou na história é Zé Garcia....Ôpaaa!Zé Garcia?O Zé não!A Burra!
     E era A Burra de Zé Garcia,a sensação do momento que muitas cidades nordestinas tiveram a honra de conhecer.Aí o leitor deve está se perguntando quais os dotes da falada burrinha,se era aprendida,mansa ou arredia,pra me chamar tanta atenção.
     Eis a verdade: a danada da burrinha chamava atenção por ser tão enfeitada,mas espere aí,pois não era enfeite qualquer não! Apesar da ausência de classe e requinte notáveis,o Zé arrumava seu xodó como uma dama,sem economizar nos laços de fitas,panos coloridos, penduricalhos e companhinha.
     O modo acanalhado que a coitada da burrinha era submitida a se expor,deixou uma herança pra lá de arretada à nós nordestinos em matéria de expressão linguística.E até hoje quando alguém exagera um pouco no figurino ou na maquiagen,dizemos que esse alguém tá enfeido qui só a Burra de Zé Garcia!

                             Tudo isso contou vovô e muita gente embaixo assinou!



Vovô tropeiro







   Vovô com toda ousadia, percorreu esse mundão de Meu Deus,na sua juventude.Fez da necessidade uma grande e instigante aventura.Sua memória de menino nos permite hoje,calvalgar(de mula é claro),junto com ele,todos os lugares  por onde passou,rir dos causos como se, tivessem acontecido conosco e nos tornar fãs de verdeiras figuras nordestinas que ele próprio teve oportunidade de conhecer.Tudo isso e muito mais,acompanhado de um saboroso café e uma roda de amigos debaixo da mangueira!