Albertina Xique-chik
Logo cedo se apronta.
Põe a lenha na fornalha
Assim que o galo canta.
Joga mio pras galinha
No terreiro chei de planta
É fejão, é macachera,
Lá na horta e na cozinha.
De madêra tem pilão
Pra pilar mio e farinha
Girgilin e café forte
Daqueles de trocê lingua.
Tudo isso,diz Bebé,
É o milhor que há na vida.
Mas Albertina Xique-chik,
Sofre d"um má qui não tem cura.
A danada da veinha é pior do quê cajaca,
Inda alega ser caduca.
Ela ajunta cacareco
No buraco que achar,
É no chão véio vermeio
Da sala de está...
Um dia vou te levar
Lá na casa de Albertina
Pro seus olho ver assombro
Cumeçando da curtina:
Florida de toda estampa
Com remendo fuxicado
Os cacho de flor de prástico
Pendurado por todo lado.
Os retrato de pulitico
Nas parede desbotado,
E no quarto pra visita
É foto que dói na vista,
Com destaque pros finado!
Lá tem tanta raridade
Que as coisa do museu
A poiqueira é comparada.
Armador de madeira
Gancho pra chapéu de pálha.
Tanta coisa assim de doido,
Tem que ir lá pra acreditar,
A galinha pondo ovo
No buraco do sofá.
Os arreio dos cavalo,
Pendurado lá nas téia.
Junto cum os inchú de abêlha.
E a jurema do quintal
De roupa sempre enfeitada,
dispensa o antigo varal!
Albertina do jeito que é
Num pudia, era deixar
De interrar uma butija.
O medo é que dento dela
De ouro num tenha nada.
Vai que a véia intarrasse
tudo qui ela mais gostava?
Por sê igual a burra
De Zé cigano véi
Cuberta de bijú da cabeça até os pés.
Acunhava carmim nos beiço
Que de longe encandiava.
O meu medo é que a butija
Têja cheia dessas tralha!
Cá pra nós: Se Bebé disconfiar
Desse plano de achá
A butija escondida
Antes de já tá batida
As bota da cumadre!
O chão não vai ficá duro
Mais amigo eu te juro
Que a Bebé vai se vingar!
Enchendo a butija.
_ De quê?
Vou te contar:
Anágua rasgada o elástico
Vestido de chita amofado.
Volta queimada do forno,
O dente de leite e a chapa dela,
Um pinico de latão,
Caco de pireco de loça,
E de barro uma panela!
E o pior nem é isso
Do tesouro sem valia
Que a gente anda imaginando.
Mais ruim é a vassôra
que ela bota atrás da porta,
Pra impedir a sua volta
E a butija protegê.
Assim Só vai crescendo
O piolho de todo mundo.
O jeito é esperar,pra Bebé num viver muito.
E torcer pro baú,num ser igual a casa dela:
Um ninho de cajaca de couro,
E sim pra ser recheado
De prata e moeda de ouro.
Ana Luíza Dantas de Lira
Cajaca,Cajaca de couro ou Casaca de couro: Ave típica da caatinga,que faz um ninho bem curoso com tudo que tem direito.Pente velho,espelho,garranchos,folhas,embalagem de creme dental, etc. Ela é marrom avermelhada, de topete.E possui um canto também bonito.Veja as fotos: http://www.wikiaves.com.br/298939&t=s&s=11113&p=1
Cacareco: Porcaria,coisa sem valia.
Jurema: A Jurema é uma planta da família das leguminosas, comum no Nordeste brasileiro, com propriedades psicoativas.
Butija: Tesouro enterrado: No sertão a lenda da botija ou butija,dizia que antes de morrer,a pessoa deixava uma botija enterrada, depois de morta a pessoa viria em sonho, avisar a alguém o local da botija.E esse alguém teria de guardar segredo e ir sozinho a grande caçada,exceto se no sonho houvesse mais alguém.Nesse caso as duas pessoas iriam procurá-la e ao desenterrar deveriam utilizar objetos de madeira, ou só as mãos.Caso contrário o chão endureceria,a butija não seria encontrada e os sortudos morreriam.
Uma vez seguida todas as etapas e com a butija em mãos, no espaço de uma semana deveriam mudar de casa,ou trocar as portas, caso não ocorresse assim o morto tomaria a dinherama e os sortudos morreriam misteriosamente.Trágico!
Volta: Pano de enchugar loças.
Pireco: Pires.